ESTAÇÕES DIFERENTES
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ESTAÇÕES DIFERENTES
ESTAÇÕES DIFERENTES
Tirando as pessoas que, por dor familiar/ pessoal ou falta de inserção social passam tempos ainda mais difíceis no Natal, sinceramente, começo a ficar um bocado cansado daquele discurso natalício de depressão e suposta denuncia esclarecida da corrida às lojas e partilha de tempo com família de quem se é menos próximo mas que se tem de aturar na mesma. Daquela conversa de quem afinal de contas esperava que esta quadra fosse uma espécie de revelação extra-sensorial dos verdadeiros motivos de uma qualquer aproximação entre as pessoas e não um suposto condicionalismo da lógica de vida em sociedade. Daquela prosápia de quem não gosta nada destes rituais mas depois simplesmente acentua a depressão na admissão de que o período de tempo nada mais faz que intensificar sentimentos complicados de solidão e alienação. Mas o que não gosto mesmo é de uma espécie de evangelização oposta, onde toda a gente é corrida à mesma avaliação de pobres patetas que se limitam a obedecer ao gatilho da época, como bonequinhos movidos a pilhas.
Essa generalização é idiota e injusta, e sobretudo precipitada.
As pessoas têm todo o direito e legitimidade em viver a quadra como entendem, e qualificá-la para si como acham melhor ou mais adequado.
Mas sinceramente, ou se calhar sou eu que tenho sorte, não faço ideia onde essas pessoas que até têm familia, amigos, entes queridos, um cão, seja lá o que for, passam a quadra. E sinceramente, se é assim tão penoso, há umas casitas em Vilarinho das Furnas, isoladas no meio da natureza, onde o tempo passa sem que se saiba o que há lá fora. Inscrevam-se já, mas apressem-se. No Ano Novo há muita malta nova que vai para lá embebedar-se e o chavascal é tremendo, mesmo no meio dos pinheiros.
Talvez eu tenha sorte, mas eu compro os meus presentes para quem gosto realmente. Recuso-me absolutamente a dar presentes de conveniencia. Mas a viagem em busca de algo para alguém de quem gosto realmente, é um prazer. Mesmo no meio da molhada (que sempre se pode evitar se a malta levantar o cu da cadeira e não deixar tudo para a ultima semana), ou do stress, ou da indecisão da escolha, ou do malabarismo da conta bancária, escolher algo com carinho para alguém é, para mim, um prazer. Aquece por dentro. Chegar a casa, embrulhar as ditas prendas, ouvir o Natal do Sinatra enquanto se escrevem algumas palavras sinceras num cartão, olhar para as luzes da árvore e sentir o brilho oposto à escuridão precoce lá fora, são, para mim, tudo fontes de prazer.
Jantar várias vezes com amigos, pois felizmente tenho vários grupos de pessoas com quem tenho o prazer de manter uma amizade viva, beber uns copos, rir, sentir que, à semelhança de outros jantares que se fazem durante o ano, este é apenas um pouco mais especial porque anda qualquer coisa no ar, é algo que me faz antecipar a época. Este ano não tive um único jantar onde não sentisse isso, talvez porque os meus jantares de Natal do trabalho são apenas feitos com Amigos, e não aquela espécie de filhos da puta que nos tramaram com o chefe e coisas do género.
Poder estar com o meu irmão, os meus pais, a minha sobrinha ( e por vezes um casal de tios já velhotes mas geniais), e ficar por aí porque a tradição é família nuclear e ponto final, enquanto se bebem uns copos valentes e se comem as mais variadas vitualhas. Existem os desenhos animados, e é claro, Dickens. Este ano pela 17ª vez, e no entanto parece sempre uma história nova, com um detalhe que não se viu na leitura anterior.
Dar um enorme beijo à namorada, ver-lhe os olhos arregalados com as coisas que me esfalfei por arranjar porque estive atento ao que ela ia cobiçando de tempos a tempos. Escrever-lhe. Vê-la sorrir.
Ter encontrado duas irmãs. Incondicionalidade e gargalhadas. Felicidade e real pertença.
Abraçar os meus amigos mais antigos amanhã e embebedar-me com eles, enquanto marcamos uma farra quase pós natalícia para a noite de 25.
Mas para além de tudo isto, sair à rua, ver as iluminações que trajam a cidade de gala, e até mesmo aquele foguetão imenso na Praça do Comércio. Perceber que toda a gente dá conta do que se está a passar, e que, condicionalismo social ou não, existem aqueles que se dão ao trabalho de amenizar um pouco mais as dores dos mais desfavorecidos nesta altura. Recordo afinal de contas, o que dizia o Dickens:
"At this festive season of the year, Mr. Scrooge," said the gentleman, taking up a pen, "it is more than usually desirable that we should make some slight provision for the Poor and Destitute, who suffer greatly at the present time. Many thousands are in want of common necessaries; hundreds of thousands are in want of common comforts, sir."
(...)
Under the impression that they scarcely furnish Christian cheer of mind or body to the multitude," returned the gentleman, "a few of us are endeavouring to raise a fund to buy the Poor some meat and drink and means of warmth. We choose this time, because it is a time, of all others, when Want is keenly felt, and Abundance rejoices. "
Perceber que nesta altura também há gente que festeja, que celebra, que aproveita esta altura apenas como mais um momento para dar graças ao facto de estarem vivos e numa situação que lhes permite escolher se querem saborear ou escarnecer da quadra.
Aceitar que muita gente poderá dizer "Humbug!!", mas outros simplesmente sorriem sem saber muito bem porquê, e que disso é feita a necessária alternatividade e diversidade de personalidades.
Tirando as pessoas que, por dor familiar/ pessoal ou falta de inserção social passam tempos ainda mais difíceis no Natal, sinceramente, começo a ficar um bocado cansado daquele discurso natalício de depressão e suposta denuncia esclarecida da corrida às lojas e partilha de tempo com família de quem se é menos próximo mas que se tem de aturar na mesma. Daquela conversa de quem afinal de contas esperava que esta quadra fosse uma espécie de revelação extra-sensorial dos verdadeiros motivos de uma qualquer aproximação entre as pessoas e não um suposto condicionalismo da lógica de vida em sociedade. Daquela prosápia de quem não gosta nada destes rituais mas depois simplesmente acentua a depressão na admissão de que o período de tempo nada mais faz que intensificar sentimentos complicados de solidão e alienação. Mas o que não gosto mesmo é de uma espécie de evangelização oposta, onde toda a gente é corrida à mesma avaliação de pobres patetas que se limitam a obedecer ao gatilho da época, como bonequinhos movidos a pilhas.
Essa generalização é idiota e injusta, e sobretudo precipitada.
As pessoas têm todo o direito e legitimidade em viver a quadra como entendem, e qualificá-la para si como acham melhor ou mais adequado.
Mas sinceramente, ou se calhar sou eu que tenho sorte, não faço ideia onde essas pessoas que até têm familia, amigos, entes queridos, um cão, seja lá o que for, passam a quadra. E sinceramente, se é assim tão penoso, há umas casitas em Vilarinho das Furnas, isoladas no meio da natureza, onde o tempo passa sem que se saiba o que há lá fora. Inscrevam-se já, mas apressem-se. No Ano Novo há muita malta nova que vai para lá embebedar-se e o chavascal é tremendo, mesmo no meio dos pinheiros.
Talvez eu tenha sorte, mas eu compro os meus presentes para quem gosto realmente. Recuso-me absolutamente a dar presentes de conveniencia. Mas a viagem em busca de algo para alguém de quem gosto realmente, é um prazer. Mesmo no meio da molhada (que sempre se pode evitar se a malta levantar o cu da cadeira e não deixar tudo para a ultima semana), ou do stress, ou da indecisão da escolha, ou do malabarismo da conta bancária, escolher algo com carinho para alguém é, para mim, um prazer. Aquece por dentro. Chegar a casa, embrulhar as ditas prendas, ouvir o Natal do Sinatra enquanto se escrevem algumas palavras sinceras num cartão, olhar para as luzes da árvore e sentir o brilho oposto à escuridão precoce lá fora, são, para mim, tudo fontes de prazer.
Jantar várias vezes com amigos, pois felizmente tenho vários grupos de pessoas com quem tenho o prazer de manter uma amizade viva, beber uns copos, rir, sentir que, à semelhança de outros jantares que se fazem durante o ano, este é apenas um pouco mais especial porque anda qualquer coisa no ar, é algo que me faz antecipar a época. Este ano não tive um único jantar onde não sentisse isso, talvez porque os meus jantares de Natal do trabalho são apenas feitos com Amigos, e não aquela espécie de filhos da puta que nos tramaram com o chefe e coisas do género.
Poder estar com o meu irmão, os meus pais, a minha sobrinha ( e por vezes um casal de tios já velhotes mas geniais), e ficar por aí porque a tradição é família nuclear e ponto final, enquanto se bebem uns copos valentes e se comem as mais variadas vitualhas. Existem os desenhos animados, e é claro, Dickens. Este ano pela 17ª vez, e no entanto parece sempre uma história nova, com um detalhe que não se viu na leitura anterior.
Dar um enorme beijo à namorada, ver-lhe os olhos arregalados com as coisas que me esfalfei por arranjar porque estive atento ao que ela ia cobiçando de tempos a tempos. Escrever-lhe. Vê-la sorrir.
Ter encontrado duas irmãs. Incondicionalidade e gargalhadas. Felicidade e real pertença.
Abraçar os meus amigos mais antigos amanhã e embebedar-me com eles, enquanto marcamos uma farra quase pós natalícia para a noite de 25.
Mas para além de tudo isto, sair à rua, ver as iluminações que trajam a cidade de gala, e até mesmo aquele foguetão imenso na Praça do Comércio. Perceber que toda a gente dá conta do que se está a passar, e que, condicionalismo social ou não, existem aqueles que se dão ao trabalho de amenizar um pouco mais as dores dos mais desfavorecidos nesta altura. Recordo afinal de contas, o que dizia o Dickens:
"At this festive season of the year, Mr. Scrooge," said the gentleman, taking up a pen, "it is more than usually desirable that we should make some slight provision for the Poor and Destitute, who suffer greatly at the present time. Many thousands are in want of common necessaries; hundreds of thousands are in want of common comforts, sir."
(...)
Under the impression that they scarcely furnish Christian cheer of mind or body to the multitude," returned the gentleman, "a few of us are endeavouring to raise a fund to buy the Poor some meat and drink and means of warmth. We choose this time, because it is a time, of all others, when Want is keenly felt, and Abundance rejoices. "
Perceber que nesta altura também há gente que festeja, que celebra, que aproveita esta altura apenas como mais um momento para dar graças ao facto de estarem vivos e numa situação que lhes permite escolher se querem saborear ou escarnecer da quadra.
Aceitar que muita gente poderá dizer "Humbug!!", mas outros simplesmente sorriem sem saber muito bem porquê, e que disso é feita a necessária alternatividade e diversidade de personalidades.
MGGManolo- estrela25
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