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Lendas da região autónoma da Madeira

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Mensagem  TIT@ Ter Jan 20, 2009 3:42 am

Lendas da região autónoma da Madeira

Lenda de Machico ou do Amor Imortal
Na corte britânica de Eduardo III, vivia um homem de sangue plebeu e alma nobre, Roberto Machim, que tinha como melhor amigo e companheiro de armas o fidalgo D. Jorge. Roberto Machim era um homem sensível e tinha o dom da palavra, por isso D. Jorge veio pedir-lhe para ir com ele esperar a sua jovem e bela prima Ana de Harfet, que D. Jorge queria impressionar. Os primeiros olhares e as primeiras palavras trocadas entre Ana de Harfet e Roberto Machim foram suficientes para que surgisse um amor tão intenso que resignou sinceramente D. Jorge. Mas os pais de Ana de Harfet não aceitaram a união com um pretendente de tão baixa linhagem e ordenaram o casamento de Ana com um dos fidalgos da corte. Roberto Machim não escondeu nem a sua cólera nem a sua intenção de lutar por Ana e foi preso por ordem do rei durante alguns dias, enquanto a cerimónia de casamento se realizava. À saída da prisão esperava-o o seu fiel amigo D. Jorge que o informou que Ana estava a morrer de amor. Com a ajuda de D. Jorge, Ana e Roberto fugiram num barco em direcção a França, que uma brutal tempestade desviou para uma ilha paradisíaca. Ana não resistiu à febre que a tinha assolado durante a tormenta e foi enterrada na bela ilha. Conta-se que Roberto Machim morreu em cima da campa da sua amada e nela foi enterrado pelo seu amigo. Um grande amor que através do nome de Roberto foi para sempre recordado na bonita vila de Machico, na Ilha da Madeira, pretensa ilha a que aportaram os dois apaixonados que passaram às crónicas portuguesas.

Lenda do Cavalum
As Furnas do Cavalum, na vila de Machico da ilha da Madeira, são umas grandes grutas escavadas na rocha de basalto que o povo diz serem a morada de um monstro. Cavalum é um diabo em forma de um enorme cavalo com asas de morcego que deita fogo pelas narinas. Ainda é possível, em dias de temporal, ouvir os urros e as patadas do Cavalum ecoar nas paredes da gruta. Embora haja quem diga que estes ruídos não são mais do que o eco do ribombar dos trovões, o povo afirma serem do monstro que ali foi obrigado a ficar contra a sua vontade. Segundo a lenda, nos tempos em que o Cavalum andava à solta, foi a besta bater à porta de igreja para falar com Deus. Quando Deus lhe perguntou ao que vinha, o Cavalum disse-lhe que lhe queria propor um desafio: o monstro tinha a intenção de destruir toda a povoação, igreja incluída, e queria ver se Deus, que já estava um bocadinho velho, tinha forças para o impedir. Deus mandou-o embora dizendo que não tinha paciência para tais brincadeiras. Mas o Cavalum, que achou que tinha sido honesto em O avisar, reuniu o vento e as nuvens e juntos despertaram uma grande tempestade que se abateu terrível sobre a povoação. Do alto do penhasco, o Cavalum relinchava de satisfação perante a aflição dos habitantes. Mas Deus, envolvido nas suas mantas diante da lareira, não mexeu um único dedo, pensando que o Cavalum depressa se cansaria da sua brincadeira. Mas a tempestade subiu de intensidade e o povo, atemorizado, viu as casas e os campos serem arrasados. Até o crucifixo voou pelos ares até ir parar ao mar, levado pelo vento, por indicação especial do insolente Cavalum. Foi aí que Deus começou a ficar mesmo muito irritado e decidiu acabar com toda aquela provocação infantil. A sua primeira reacção, claro está, foi fazer com que um barco que estava no mar achasse o crucifixo. Depois chamou o sol que apareceu com toda a sua força, afastando as nuvens, o vento, os trovões e os relâmpagos. O céu ficou azul e a felicidade voltou ao coração dos homens. Não querendo mais ser interrompido nos seus afazeres pelas tropelias do monstro, Deus decidiu prender o Cavalum nas grutas, onde ainda hoje de vez em quando se ouvem os seus protestos de raiva e desespero.


O Milagre da Sra. do Monte
Nos primeiros tempos da colonização da ilha da Madeira, havia uma ribeira de água límpida e abundante rodeada de terras férteis que encantou os portugueses que lá chegaram. Mas um dia um senhor poderoso resolveu ter aquela água só para si e canalizou a fonte para as suas terras. A população desesperada, porque aquela água era imprescindível à sua sobrevivência, resolveu fazer uma procissão à Senhora do Monte, implorando para que a água voltasse a brotar naquela fonte. O milagre aconteceu e a água encheu de novo a fonte, mas em quantidade menor do que no início. O povo utilizou então em seu benefício a ideia do desvio da água e, construindo regos ou cales, levaram a água mais longe, tornando férteis muitos campos e quintas. A ribeira ficou a ser conhecida como a ribeira de Cales e o milagre da Senhora do Monte ficou para sempre na memória popular.


Lenda da Noite de S. Silvestre
Esta lenda assegura que há muitos, muitos anos existia no oceano Atlântico uma ilha fabulosa, a Atlântida, e nela vivia a civilização mais maravilhosa de sempre. Os seus habitantes, que Platão dizia descenderem dos amores do deus Poseidon com a mortal Clito, tornaram-se tão arrogantes que tiveram um dia a pretensão de conquistar todo o mundo, ousando mesmo o seu rei desafiar os céus. Foi então que ouviu a voz do Deus verdadeiro dizer-lhe que nada poderia contra o poder divino. Mas o teimoso rei voltou a desafiá-lo e decidiu conquistar Atenas, mas, durante a batalha o rei da Atlântida ouviu a voz de Deus dizer-lhe que a vitória seria de Atenas para castigar a sua arrogância e ingratidão. À derrota seguiram-se terríveis tempestades, terramotos e inundações que engoliram a bela Atlântida para todo o sempre.

Passaram-se muitas centenas de anos até que um dia a Virgem Maria se debruçava dos céus sobre o oceano, sentada numa nuvem quando São Silvestre lhe veio falar. Aquela era a última noite do ano e São Silvestre achava que deveria significar algo de diferente para os homens, ou seja, marcar uma fronteira entre o passado e o futuro, dando-lhes a possibilidade de se arrependerem dos seus erros e de terem esperança numa vida melhor. Nossa Senhora achou muito boa ideia e então confiou-lhe qual a razão porque estava a observar o mar com uma certa tristeza: lembrava-se da bela Atlântida que tinha sido afundada por Deus por causa dos erros e pecados dos seus habitantes. Enquanto falava, Nossa Senhora deixava cair lágrimas de tristeza e misericórdia porque a humanidade, apesar do castigo, não se tinha emendado. Emocionado, São Silvestre reparou que não eram apenas lágrimas que caíam dos olhos da Senhora, eram também pérolas autênticas que caiam dos Seus olhos. Foi então que uma dessas lágrimas foi cair no local onde a extraordinária Atlântida tinha existido, nascendo a ilha da Madeira que ficou conhecida como a Pérola do Atlântico. Dizem os antigos que durante muito tempo, na noite de S. Silvestre quando batiam as doze badaladas surgia nos céus uma visão de luz e cores fantásticas que deixava nos ares um perfume estonteante. Com o passar dos anos essa visão desapareceu, mas o povo manteve-a nas famosas festas de fim de ano com um maravilhoso fogo de artifício a celebrar a Noite de S. Silvestre.
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