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História de Sacavém

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Mensagem  mtv2006 Sex Jan 02, 2009 12:17 am

Século XVII

Ruína da ponte romana

Entretanto, com a ruína da velha ponte romana (referenciada como estanjo já em ruínas em 1570, como já foi dito, por Francisco de Holanda), sem ter sido jamais reconstruída, por incúria dos governantes, a travessia de pessoas e bens no rio de Sacavém teve que ser feita, doravante, através de uma barca; o Duque de Bragança, donatário da povoação e dos seus direitos alfandegários, arrendou aos barqueiros do Trancão a portagem no valor de 300 000 réis anuais. Inicialmente, cada cavaleiro pagava 3 réis de portagem; mais tarde, o Duque decidiu aumentar o valor do imposto, passando a cobrar 5 réis aos peões (que até então estavam isentos), 20 réis aos cavaleiros e animais de tiro, e 40 réis pelo transporte de carros. Estes preços exagerados levaram o monarca (então Filipe III de Portugal) a comparar com as taxas praticadas noutras vias fluviais, concluindo serem muito onerados os habitantes da região na travessia do rio de Sacavém. Emitiu-se então um regimento (datado de 25 de Maio de 1628), que procurou favorecer as populações, tendo-se regressado, v. g., ao valor de 3 réis de portagem, aplicado a todos os indivíduos.

Como alternativa, muitas pessoas preferiam deslocar-se um pouco mais, até ao Tojal, e aí atravessar o Trancão numa ponte em melhor estado.


Sacavém nas corografias seiscentistas

O chantre da Sé de Évora, Manuel Severim de Faria, tendo realizado três viagens por Portugal entre 1604 e 1625, passou duas vezes por Sacavém, na primeira e na terceira viagens, dando conta das suas impressões sobre o local. Assim, da sua segunda viagem, em 1609, deixou-nos o seguinte relato:

«De Lixboa a Sacauem ha duas legoas. Sacauem he hum lugar de 100 vezinhos edificado polla comodidade de hum braço de Teio que polla terra dentro entra duas legoas ate Loures donde toma o nome. He este esteiro quando dezemboca no Teio de gram fundo; tanto que nelle entraõ navios de muitas tonelladas, e alguns galeons de carreira da Jndia, a larguesa naõ he muita e se passa este estreito por huã barca que he estanque do duque de Bragança herdado do Conde Nuno Alvres, a quem deu ElRey D. Joaõ primeiro e lhe rende seicentos cruzados. O Rio se uai estreitando polla terra dentro para a parte do Poente sempre em altura que navegaõ barcas, e de huã parte e de outra da ribeira esta cerquada de quintas fresquissimas, e de muitas marinhas, a ultima parte deste Rio dista pouco do de Alcantara, e rompendose huns valles que entre elles correm, se poderaõ comunicar sem muita deficuldade como o considerou excelentemente Luis Mendes de Vasconcelos. De Sacavém ate Pouoa he legoa e meia»[44].
Da viagem de 1625 deixa-nos Severim de Faria uma notícia muito mais sumária:

«[...] e quinta feira 18 de Setembro partimos todos para Lisboa e viemos jantar aquelle dia a Sacavem, e fomos hospedes dos frades, que assistem as freiras. Dipois do jantar pellas tres da tarde nos metemos em hum barco e fomos navegando rio assima vendo aquelle excelente sitio taõ cultivado de vinhas e pomares, e enobrecido com quintas, fomos ate Frielas donde fizemos volta, e viemos ia tarde a Sacavem e pusemonos logo a cavallo [...]»[44].
Anos antes, em 1620, aludia assim a Sacavém Frei Nicolau de Oliveira, na sua obra Livro das Grandezas de Lisboa:

«Passando o rio, ficam da parte de Lisboa as freguesias seguintes: Sacavém, onde há um mosteiro de religiosas franciscanas capuchas descalças, em número de trinta, sem terem servidoras; todas servem nas tarefas comuns do convento. Este lugar tem uma freguesia, com duzentos e sessenta fogos, e setecentas pessoas».
Anos mais tarde, em 1629, Miguel Leitão de Andrada dá à estampa a sua Miscelânea do sítio de Nossa Senhora da Luz do Pedrógão Grande: aparecimento de sua imagem, fundação do seu Convento e da Sé de Lisboa, com muitas curiosidades e poesias diversas, na qual alude sucintamente, num registo vivo e curioso, logo nas primeiras páginas do seu «2.º Diálogo» (travado entre as personagens Galácio e Devoto), à barca do Rio Trancão (falando na supramencionada questão dos valores a pagar pela travessia do mesmo rio), à Ponte de Sacavém (então em ruína, lamentando a incúria da Câmara de Lisboa), ao porto onde se querenavam as naus, ao Mosteiro de Nossa Senhora dos Mártires e à Batalha do Rio de Sacavém:
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Mensagem  mtv2006 Sex Jan 02, 2009 12:18 am

Diálogo Segundo

Dá-se a razão do Mosteiro de Nossa Senhora dos Martyres de Sacavém. E da ponte de pedra que ali havia e poderia haver agora. […]
Galácio: Pois até aqui viemos andando por todo esse vosso gabado sítio do Convento de Nossa Senhora da Luz, apertemos o passo, que parece vai desamarrando esta barca de Sacavém.
Devoto: Ó da barca!
Galácio: Paciência, que há havemos de esperar que torne.
Devoto: Esta he huma cousa em que eu a perco, haver de estar Lisboa como enfreada com esta barca, tanto contra sua nobreza e commodidade de seus moradores e caminhantes, podendo tão facilmente haver aqui huma ponte de barcas como em Sevilha, a pouco custo ou sem algum.
Galácio: Alguma cousa deve haver nisso de por meio, pois se não faz, sendo notoriamente tão necessária e útil.
Devoto: Nenhuma, que eu saiba, se não se for por se não prejudicar à renda que o Duque de Bragança tem desta barca, que se lhe arrenda em trezentos mil réis cada anno, tendo-a visto muitos que hoje são vivos, andar arrendada em dez ou doze mil réis cada anno, e pagar a três réis cada pessoa a cavalo e agora a vintém, pelo grande descuido dos da Câmara de Lisboa.
Galácio: Não parece deve ser a causa isso que dizeis do Duque, que sendo hum príncipe tão grandioso, não lhe devem de vir em consideração essas pouquidades em respeito do bem commum e grandeza de Lisboa, à qual se lho pedisse lhe largaria muito facilmente esta barca.
Devoto: Se isto não he, menos o deve ser o que dizem, que por causa das náos a que neste rio se dá querena, porque além de que já aqui se lhe não dá, se não da banda d'além; era fácil abrir-se essa ponte, e passada a náo tornar-se a fechar, ou fazer-se onde as náos lhes podessem dar essa querena pera a banda do mar. Nem menos o deve ser a passagem dos barcos, que navegão o rio acima, que podião tirar os mastros e passar; quanto mais, que os deste rio são tão pequenos, que com elles poderião passar por debaixo da mesma ponte; pelo que a razão do Duque, me parece considerável se alguma o causa ou impede, e poderá isso ter remédio muito fácil. Que com esse meio rela que chamão da ágoa, que novamente se impoz para a trazida de ágoa ao rocio, em cada quartilho de vinho, e real em cada arrátel de carne, se poderia satisfazer ao Duque, e fabricar-se aqui huma ponte de barcas.
Galácio: Comtudo, me parece muito custo haver-se de sustentar essa ponte, além do feitio della.
Devoto: Não seria senão muito pouco; porque, que cousa são seis ou sete barcas, que podem durar trinta ou quarenta annos? quanto mais que só as cavalgaduras a três réis bastava bem a esse custo, porque também acudirão os gados a esta passagem.
Galácio: Também haveria difficuldades e brigas sobre essa paga.
Devoto: Se na barca isso não acontece, menos seria na ponte; quanto mais, que se poderia pôr na entrada huma porta, e cessaria esse inconveniente. E eu digo isto em caso que a cidade a não pudesse sustentar de graça, o que fora grande nobreza de Lisboa, a que primeiro se houvera de acodir, que a outras cousas menos necessárias e menos nobres. Pois vemos que quando Lisboa era nada, em comparação do que hoje he, tinha aqui ponte de pedra, segundo agora se parece nos pedaços de piares que della ali vedes, desta banda e da outra.
Galácio: Isso seria há muitos mil annos, em tempo que este rio seria mais estreito, e menos fundo.
Devoto: A largura he a mesma, segundo mostrão os vestígios dos piares que vedes, que chega o rio a elles e não passa; e quanto a profundidade, ainda que seja mais, o que não sabemos, comtudo, bem se pudera refazer de pedra, que no fundo devem estar os alicerces ou bases dos piares; quanto mais, que a arte da architectura com dinheiro muito alcança e pode, pera se fazer de hum só arco: pois dizem, que he infinita esta arte sem termo. E vemos que naquelle tão famoso rio Danúbio, está ainda em pé a ponte que nelle mandou fazer o Imperador Trajano, com quási todos os piares inteiros por cima da ágoa cento e cincoenta pés, os vinte delles, que se parecem, e cada hum de sessenta pés de grossura, e o vão de cada arco de cento e sessenta pés. […] Por onde digno era da grandeza de Lisboa, haver aqui huma famosa ponte de pedra, ainda que se fintasse para isso todo o reino.
Galácio: Já nos contentáramos com ella de barcas.
Devoto: E eu dessa vos trato. Porém, ao que dissestes de se poder ter alargado este rio, o que aqui não fez, bem sei, que os rios vão comendo e abaixando as terras, e tenho pera mim que esses valles grandes e piquenos e essas várzeas e veigas espaçosas foram causadas das ágoas dos rios e enxurradas deles, e das cheias e chuvas, que vão comendo e levando a terra e descobrindo estas ossadas e penedias que o sol foi criando e coalhando debaixo da terra della mesma. […] Porém aqui não há esses milhares de annos, que cuidais havia esta ponte: porque no tempo que el-Rei D. Affonso Henriques, primeiro de Portugal, cercou Lisboa e a tomou aos Mouros, estando sobre ella teve aviso como a vinhão socorrer os Mouros da comarca de Alenquer. E sabendo havião de passar por esta ponte de Sacavém, lhes mandou tomar o passo com gente de cavallo (que não podia ser muita), os quaes achando já os Mouros, que quási todos a tinhão passado, tiverão com elles huma muito perigosa e desigual batalha, porque sendo muito poucos e os Mouros muitos, já a não puderam escusar sem se perderem, e delles houverão huma muito sinalada victória neste plano. Onde disseerão depois os Mouros virão huma molher que os cegava, e os desbaratou, que foi a Virgem Nossa Senhora, a cuja honra e por memória desta victória se edificou aquella igreja que ali vedes. A aqual nestes annos reedificou Miguel de Moura, que foi hum dos cinco Governadores que el-Rei Philippe, primeiro deste reino, deixou nelle, fundando ali aquelle mosteiro tão religioso de Capuchinhas. E a esta igreja de Nossa Senhora dos Mártyres, pelos cavalleiros que nella forão sepultados, que aqui nesta batalha peleijando forão mortos. Que naqueles tempos chamavão mártyres a todos que peleijando contra Mouros, erão mortos; como a igreja de Nossa Senhora dos Mártyres de Lisboa, que os Ingrezes fundarão neste cerco […] pera enterrarem seus mortos. […]
Galácio: Por essa conta não serão passados muitos centos de annos, que aqui havia esta ponte, pois esse cerco e a tomada de Lisboa foi no anno de 1147, segundo se vê nos letreiros que estão na Sé de Lisboa e o dizem os Chronistas todos, e o Padre Frei Bernardo de Brito, depois delles; e se essa ponte nesse anno estava inteira que se passava por ella como dessa batalha e passada dos Mouros se collige, e da tradição antiga e memórias, que disso há nesta igreja; e não devendo logo acabar-se, antes durar muitos annos essa ponte depois disso; fica claro, não serem, nem poderem ser passados muitos annos, ou centos de annos que durava essa ponte, e a havia aqui. Donde considero três cousas: primeira, a força do tempo em gastar e consumir tudo, até a memória do que foi. He que até as pedras têem também sua idade, pois vemos acabadas sem memória alguma, nem rasto, tantas cousas e tão grandes, que sabemos houve de edifícios e cidades. E quão depressa se acabou a memória de tudo, e de como a dessa ponte, de que parece não há outra, se não isso que me contais com estes pedaços que della vemos, por culpa de nossos passados ordinária daquelles tempos, sepultarem cousas grandes nas trevas do esquecimento, contentando-se com só a honra presente de as obrar. […] .
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Mensagem  mtv2006 Sex Jan 02, 2009 12:19 am

Sacavém e a Restauração

Segundo o Dicionário Histórico, Corográfico, Heráldico, Biográfico, Bibliográfico, Numismático e Artístico de Portugal, o nome da povoação surge citado numa enigmática carta codificada que um dos Conjurados de 1640, o Dr. João Pinto Ribeiro, dirigiu ao Duque de Bragança D. João; com efeito, tendo-se decidido, no dia 25 de Novembro, que a revolta deveria ter lugar dali a seis dias, João Pinto Ribeiro foi incumbido de comunicar o facto ao futuro monarca português, escrevendo-lhe que seria no dia 1.º de Dezembro seguinte «que se devia de resolver o caso dos freires de Sacavém» — localidade que era, como já foi dito, uma das honras da casa de Bragança, e onde se situava o Convento de Nossa Senhora dos Mártires e da Conceição, fundado por Miguel de Moura e sua esposa Brites da Costa no final do século anterior, e ao qual o Duque tinha isentado do pagamento de certas obrigações; tal alusão ao caso dos freires de Sacavém pressupõe que houvesse, talvez, alguma contenda que opusesse o mosteiro ao Duque, muito provavelmente ao nível de obrigações fiscais. Foi através desta mensagem codificada que se alertou o Duque de Bragança para as movimentações em curso destinadas a restaurar a independência de Portugal.

Após a Restauração, aventou-se várias vezes a ideia (designadamente nos reinados de D. João IV e D. Afonso VI, com a guerra contra Espanha a decorrer), de ligar o rio de Sacavém ao Oceano Atlântico, fazendo-o desembocar na praia do Baleal, constituindo este curso de água que ia desde Sacavém a Peniche uma linha de defesa natural da capital; o projecto nunca foi levado avante, e foi-se gradualmente desvanencendo, embora ainda fosse recordado quando, no início do século XIX, se construíram as Linhas de Torres Vedras para deter os invasores franceses.

Do último quartel deste século, segundo Joaquim Veríssimo Serrão nos diz na sua História de Portugal, há notícia de haver falta crescente de peixe não só no Estuário do Tejo, como também nos rios seus tributários, no número dos quais se contava o rio de Sacavém. Isto porque se usavam redes de pesca com a malha «muito meuda» (os chinchorros), o que levou as autoridades lisboetas a invocarem uma postura municipal de 1591, que proibia a utilização de chinchorros; embora os pescadores se tenham amotinado contra os almotacés da capital (os responsáveis pelo abastecimento urbano, entre outras funções), em 1687, a probição manteve-se.

Em 1690, durante o reinado de D. Pedro II, o soberano financiou parcialmente a reconstrução da capela-mor da Igreja da Senhora da Vitória, a meias com o desembargador José Galvão de Lacerda (futuro chanceler-mor do reino, durante o reinado do seu filho D. João V), e contando ainda com a contribuição de esmolas populares.
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Mensagem  mtv2006 Sex Jan 02, 2009 12:19 am

Século XVIII

No século XVIII, realizavam-se em Sacavém grandes festas de touros, por ocasião do mês de Setembro, em homenagem a Santa Ana, como memora um curioso fólio conservado na Biblioteca Nacional de Portugal, intitulado Festas de Sacavem em obsequio da Senhora Sta. Anna: descripção dellas em o terceiro dia em que forão os Cavalleiros combatentes Francisco de Mattos e Jozé Roquete, da autoria de um tal Tomás Galo.

Na primeira metade do século XVIII, foi pelo rio de Sacavém que seguiram os torreões do Convento de Mafra, em embarcações, até ao Tojal; só a partir daí faziam o resto do percurso por terra.

Por ordem de D. João V, o matemático Bento de Moura (1706–1776) foi encarregado de reformular a barca do Trancão, segundo refere o Padre João Baptista de Castro na sua obra de geografia Mappa de Portugal Antigo, e Moderno (1763). Este facto deu azo a que Pinho Leal escrevesse que havia sido construída uma ponte de barcas, supostamente anterior à mais conhecida ponte de barcas do País, que ligava o Porto a Gaia. No entanto, parece tratar-se de uma grosseira interpretação de Pinho Leal, jamais tendo existido uma ponte de barcas em Sacavém, pois o que João Baptista de Castro escreve em dois locais da sua obra é: «Por ordem de D. João V se reformou a barca de passagem deste rio pela admirável idéa do nosso insigne maquinista Bento de Moura, com grande commodidade para os passageiros» e «existe hoje uma barca de carreira, que por invenção engenhosa de Bento de Moura, facilita muito a passagem de uma para outra parte».
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Mensagem  mtv2006 Sex Jan 02, 2009 12:19 am

Sacavém na nova cidade e metrópole de Lisboa Oriental

Em 7 de Novembro de 1716, o Papa Clemente XI criou, a instâncias do rei D. João V, o Patriarcado de Lisboa, funcionando na Capela Real de São Tomé, o qual congregava as quarenta e seis freguesias ocidentais da cidade e do seu termo, e deixando as remanescentes vinte e seis mais orientais integradas na antiga Arquidiocese de Lisboa. Para fazer corresponder a nova divisão eclesiástica à divisão administrativa, D. João V procedeu à repartição da cidade em duas: Lisboa Ocidental, sede do Patriarcado, e Lisboa Oriental, sede do arcebispado. Esta última correspondia, sensivelmente, à cidade velha, intra-muros (paróquias da Sé, São Jorge, São Martinho, Santiago, Santo André, Santa Engrácia, Santo Estêvão, Salvador, São Miguel, São Pedro, São João da Praça, Santa Marinha do Outeiro, Santa Cruz do Castelo, São Bartolomeu e São Vicente de Fora), com as freguesias do termo mais orientais (Nossa Senhora dos Olivais, Nossa Senhora da Purificação de Sacavém, Santiago de Camarate, Nossa Senhora da Encarnação da Apelação, São Silvestre de Unhos, São Julião de Frielas, São Sebastião da Granja, Nossa Senhora da Assunção de Vialonga, São João da Talha e Santa Iria).

Contudo, ao fim de algum tempo se percebeu o erro da divisão, quer da diocese, quer da cidade; desta forma, em 1740, o Arcebispado de Lisboa Oriental (em sede vacante desde a fundação do Patriarcado) foi anexado ao Patriarcado de Lisboa Oriental num único Patriarcado de Lisboa; de igual forma, se procedeu à reunificação das duas cidades de Lisboa numa só, terminando assim a fugaz transferência de Sacavém e demais paróquias da zona oriental para a nova cidade de Lisboa Oriental.
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Mensagem  mtv2006 Sex Jan 02, 2009 12:20 am

Sacavenenses ilustres

Ainda segundo Pinho Leal, em 16 de Dezembro de 1741 faleceu em Sacavém aquela que terá sido uma das mulheres mais longevas da História de Portugal — uma tal Ana da Silva, natural de Santa Maria dos Olivais, onde nascera em Janeiro de 1626 (tendo, portanto, 115 anos à data do óbito). Desta senhora dizia o corografista oitocentista ter sido casada duas vezes, e deixado larga prole, isto para além de jamais ter feito uma sangria ou uma purga (o que, ironicamente, bem poderia explicar a sua longevidade, numa época em que os cuidados médicos eram, muitas das vezes, uma das mais importantes causas de morte…). Durante os últimos vinte e cinco anos da sua vida, serviu os pobres e doentes do hospital de Sacavém, tendo concluído uma peregrinação ao Senhor da Pedra, no Norte do País, quando contava já 113 anos de idade. Parece ter conservado tão boa memória que, próxima da morte, recordava ainda, com espantosa exactidão e minúcia, os eventos ocorridos em Lisboa, no dia 15 de Dezembro de 1640, aquando da aclamação de D. João IV.

Em Sacavém nasceu, em 7 de Setembro de 1754, Luís António Furtado de Castro do Rio de Mendonça e Faro, o 1.º Conde de Barbacena, o qual viria a ser Governador de Minas Gerais, detendo nesta freguesia os Viscondes seus antepassados uma propriedade senhorial que, a partir do século XIX, passará a ser conhecida como Quinta do Rio; como o seu herdeiro, Francisco Furtado de Castro do Rio de Mendonça e Faro, tivesse depois tomado o partido de D. Miguel I, o título acabou por não ser revalidado, e a Quinta do Rio, com a sua capela dedicada a São Roque, acabou por cair em ruínas.
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Mensagem  mtv2006 Sex Jan 02, 2009 12:20 am

Sacavém e o processo dos Távoras

Também os Condes de Alvor tiveram aqui uma quinta, mas o título acabou extinto em 1759, na sequência do processo dos Távoras, visto que o conde era primo dos Marqueses de Távora.

Na sequência desse mesmo processo, viria ficar detida no Convento de Sacavém a Condessa de Atouguia, Mariana Bernarda de Távora (a qual era a filha mais velha de Francisco de Assis de Távora, 3.º Conde de Alvor e Leonor de Távora, 3.ª Marquesa de Távora), e cujo marido, D. Jerónimo de Ataíde, 11.º Conde de Atouguia, fora supliciado juntamente com os Távoras e o Duque de Aveiro no patíbulo em Belém, em 13 de Janeiro de 1759. Aí permaneceu a Condessa ao longo dos vinte e dois anos seguintes, sendo libertada apenas em 1781, após a sentença de 20 de Junho de 1780, promulgada pela rainha D. Maria I, que na sequência da Viradeira demitiu Pombal e reabilitou os Távoras. Com ela foram também encarceradas duas das suas filhas, D. Leonor de Ataíde e D. Clara de Ataíde, bem como com o filho mais novo, D. António de Ataíde, então um bebé de dezasseis meses; D. Leonor e D. Clara acabariam por professar no austero convento franciscano de Sacavém, e aí viriam a falecer, já no segundo quartel do século XIX . As Memórias da Condessa constituem uma importante fonte para o estudo da questão, aparecendo citandos várias vezes o nome do mosteiro e da localidade para a qual foi levada, e onde, segundo o seu próprio relato, se viu «presa [...] como traidora sem o ser» .
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Mensagem  mtv2006 Sex Jan 02, 2009 12:20 am

O terramoto de 1755

Sacavém, que com a perda de Camarate em 1511, se viu amputada de mais uma parte considerável do seu território, não deixou de crescer em termos de população; registaram-se apenas decréscimos pontuais, devidos à peste (1599) e ao terramoto de 1755, que a deixou muito arruinada. A primitiva Igreja Matriz de Santa Maria, situada no Largo da Saúde, ficou completamente arruinada (não tendo voltado a reconstruir-se, tendo a Matriz passado, ao longo de um século, para a Igreja de Nossa Senhora da Vitória, também muito degradada, estando actualmente em ruínas); desapareceram igualmente com o terramoto os últimos vestígios da velha ponte romana sobre o Trancão.

Para solucionar os problemas de urbanismo da capital e prevenir uma mortandade tão grande em caso de novo terramoto, o engenheiro-mor do Reino, Manuel da Maia, previu uma solução arrojada, envolvendo Sacavém e o vale do seu rio, inclusa na sua Terceira parte da Dissertação sobre a renovação de Lisboa:

«8.º - A esta consideração de conservar as ruas de Lisboa livres dos embaraços que as fazem immundas, para o que concorrerá muito a mayor largura das ruas, e a menor altura dos edifícios, não excedendo de dous pavimentos sobre as loges, se segue necessariamente outra não menos importante, e consiste em determinar melhor lugar em que possão os tais embaraços ser lançados com menores inconvenientes; e por que me occorre hum mais livre deles do que os já observados, e promete huma grande conveniencia ao bem publico, sejame licito prezentalo neste lugar. Consiste elle em que os tais embaraços se vão lançar dentro do Rio de Sacavem, para que com este adjutorio se chegue a formar nelle hum valle á imitação do de Chelas, em que as agoas salgadas chegavão em algum tempo ao templo das Virgens Vestaes, hoje Convento de relligiozas de Sancto Agostinho; por que se este pequeno Valle soccorre tão agradavelmente a Corte com as suas hortaliças e frutas, quanto melhor o fará o Valle de Sacavem com a sua muitas vezes mayor grandeza, e sem se poder dizer que os embaraços ali lançados podem cauzar algum impedimento na barra, como se pode temer de qualquer dos outros modos em que se não lanção em terra: pode esta consideração ter contra si o embaraço do refugio das embarcações no tempo em que se recolhem a buscalo; mas a isso se pode responder que nem as embarcações necessitão de todo o esteyo de Sacavem para se refugiarem, nem seria justo que inteiramente se lhe impedice o refugio, mas que só se formasse em Valle aquillo que lho não impedice que sempre será de grandeza muy proveitoza.»

Logo após o terramoto, através do inquérito enviado por Sebastião José de Carvalho e Melo (futuro Conde de Oeiras e Marquês de Pombal), então Secretário de Estado do Reino, a todas as paróquias do país (1757), a fim de saber os estragos causados pelo sismo, e que teve como resposta as célebres memórias paroquiais, pôde-se apurar a existência de 353 fogos. De acordo com essas mesmas memórias paroquiais, pode-se também observar a relativa dimensão do porto de Sacavém no quadro dos portos fluvais do Tejo: o Prior sacavenense menciona a existência de três cais de atracagem: o de Nossa Senhora, o da Barca e o do Peixe. No entanto, a importância que este porto tivera começou a esmorecer; ao longo da segunda metade do século XVIII e início do século XIX, o rio Trancão, que até então fora navegável até ao Tojal, começou a ser assoreado, num inexorável fenómeno que desde então impede, até hoje, a navegabilidade no mesmo. De facto, tornou-se um «porto morto», de acordo com a expressão usada pelo naturalista francês Théodore Monod, num estudo intitulado L'île d'Arguin (Mauritanie). Essaie historique, consagrado à antiga feitoria portuguesa na ilha de Arguim, hoje ao largo da Mauritânia, onde afirma que o porto que servia a fortaleza portuguesa na costa magrebina tinha as águas tão calmas como o porto de Sacavém…

A política de fomento industrial e comercial seguida por Pombal, conducente à fixação de novas indústrias no Reino, levou a que o governo subsidiasse um empréstimo de 6$480 contos de réis a um tal William Macormick, para que instituisse uma manufactura têxtil em Sacavém — uma fábrica de chitas muito conhecida ao longo de todo o século XIX.
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Mensagem  mtv2006 Sex Jan 02, 2009 12:21 am

Bocage e as praias de Sacavém

Enfim, nos finais do século XVIII, Sacavém mereceu uma referência num soneto de Bocage, o qual não ficara de todo indiferente à beleza da terra:

«Praias de Sacavém, que Lemnoria,
Orna c’os pés nevados e mimosos,
Gotejantes penedos cavernosos,
Que do Tejo cobris a margem fria.

De vós me desarreiga a tirania
Dos ásperos Destinos poderosos,
Que não querem que eu logre os amorosos
Olhos, aonde jaz minha alegria.

Oh funesto, oh penoso apartamento!
Objecto encantador de meus gemidos,
A sorte o manda assim, de ti me ausento.

Mas inda lá de longe os meus gemidos
Guiados por Amor, cortando o Vento,
Virão, ninfa querida, a teus ouvidos.»
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Mensagem  mtv2006 Sex Jan 02, 2009 12:21 am

Idade Contemporânea

Século XIX

Guerra peninsular e guerras liberais

No século XIX Sacavém ganha importância acrescida pelo constante crescimento geo-demográfico de Lisboa.

Durante a I Invasão Francesa, o comandante do exército agressor, Jean-Andoche Junot, passa por Sacavém em 29 de Novembro de 1807, vindo de Santarém e dirigindo-se a Lisboa (no encalço do príncipe regente; ao chegar a Belém, porém, vê já as embarcações portuguesas a partir, rumo ao Brasil, onde a Corte se estabelecerá até 1821). Foi em Sacavém que Junot recebeu uma legação portuguesa composta por elementos da regência do reino nomeada pelo príncipe D. João, individualidades ligadas à maçonaria, e ainda membros da Academia das Ciências de Lisboa — entre eles, homens como Francisco de Borja Garção Stockler (futuro Barão da Vila da Praia) e Luís António Furtado de Castro do Rio de Mendonça e Faro (o Visconde de Barbacena), um natural de Sacavém.

Após o término da Guerra Peninsular, sente-se a urgência de fortificar a capital do Reino. É nesse sentido que têm início obras como a Estrada Militar, ligando Benfica a Sacavém e, mais tarde, a construção do Forte de Sacavém (ou Reduto do Monte-Sintra, do nome do morro sobranceiro a Sacavém de Baixo onde foi erguido), no local onde se ergeu um tosco forte no quadro das Linhas de Torres Vedras, e onde hoje está sediada o arquivo da antiga Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais (DGEMN).

Em 2 de Outubro de 1820 passa por Sacavém, em cortejo, rumo ao Rossio, na capital, a Junta Provisional do Governo Supremo do Reino, formada inicialmente no Porto na sequência do pronunciamento militar de 24 de Agosto anterior, com o intuito de governar o País e convocar Cortes Constituintes, a qual se fundira em Alcobaça com uma outra Junta Provisional formada em Lisboa, em 15 de Setembro, após a fuga dos governadores do Reino. Neste cortejo seguiam ilustres figuras do movimento liberal, como Manuel Fernandes Tomás, Manuel Borges Carneiro, José Ferreira Borges ou José da Silva Carvalho, todos eles destacados membros do Sinédrio, organização secreta que pugnava pela instituição de um regime constitucional em Portugal.

Também por Sacavém passou o Regimento de Infantaria 23, destinado a guarnecer a fronteira da Beira contra ataques de forças reaccionárias insurrectas foragidas em Espanha, e que bradou vivas ao Infante D. Miguel como rei absoluto, na vizinha povoação de Vila Franca de Xira — foi a Vilafrancada.

Enfim, a 12 de Outubro de 1833, parte das forças miguelistas, após terem sido expulsas da capital pelo Marechal Saldanha, e derrotadas num breve recontro junto a Loures, dirigem-se a Sacavém, a fim de tomarem a estrada rumo a Santarém, para onde fugiam; depois de atravessarem o rio de Sacavém, atearam fogo à ponte de madeira que ligava as duas margens e que havia sido reconstruída pouco depois do terramoto de 1755. Só em 1842 viria a ser reconstruída uma nova em cantaria e ferro. Uma litografia aguarelada dessa ponte, da autoria do pintor Tomás José da Anunciação, datada de cerca de 1850, pode ser consultada na Biblioteca Nacional de Portugal (aqui). A mesma ponte surge também representada numa litografia de Charles Legrand, envolvida em tons mais bucólicos, executada sensivelmente pela mesma época da anterior, e visível aqui.
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Mensagem  mtv2006 Sex Jan 02, 2009 12:22 am

Industrialização e progresso

Ao mesmo tempo, esta localização geográfica nos arrabaldes de Lisboa conduziu, inevitavelmente, à terciarização da localidade. Instalam-se inúmeras indústrias na região, como a de tinturaria na Quinta das Penicheiras, ou a afamada Fábrica de Loiça de Sacavém, fundada em 1856 (tendo laborado ininterruptamente até 1983). A ela estão ligados nomes indissociáveis da história de Sacavém, como John Stott Howorth (o Barão de Sacavém), James Gilman ou Herbert Gilbert. Foi graças a ela e às louças que aí eram produzidas que Sacavém se tornou conhecida em Portugal e no Mundo; para sempre ficou a famosa frase: «Sacavém é outra loiça!».

Em 1852, extinto o Termo de Lisboa, passou Sacavém a pertencer ao recém-criado concelho dos Olivais. O novo executivo camarário teve que lidar com os problemas de um vastíssimo concelho, numa época de grandes mudanças a nível económico, social e jurídico, e não é de admirar por isso que, no meio da vasta correspondência trocada, se encontre um pedido da junta da paróquia de Sacavém, solicitando que a Câmara nomeasse um guarda para vigiar o cemitério da povoação, pois que aquele era «devassado e profanado por animais em consequência de se não achar devidamente preparado», facto que dava azo a que, em violação das leis aprovadas havia poucos anos relativas aos enterros em cemitérios, se continuasse «n’aquela paróquia, com detrimento da saúde pública», a enterrar os defuntos nas igrejas[53].

Em 28 de Outubro de 1856, inaugurou-se o troço inicial da linha de caminhos-de-ferro do Norte, entre Lisboa (Estação de Santa Apolónia) e o Carregado, passando por Sacavém e atravessando o seu rio, através de uma ponte construída em Inglaterra. Já antes, a primeira viagem experimental, realizada no dia 8 de Julho de 1854, tivera lugar entre Sacavém e Vila Franca.

A futura 1.ª Marquesa de Rio Maior (Maria Isabel de Lemos e Roxas Carvalho e Menezes de Saint-Léger), então com apenas quinze anos, consagrou, no seu diário, uma referência à inauguração e à (pouco-honrosa) passagem do comboio pela localidade — com efeito, a locomotiva foi gradualmente perdendo composições ao longo do trajecto:

«Algumas, de convidados, nos Olivais. O "wagon" do Cardeal-Patriarca, e do Cabido, ficou em Sacavém; mais um, recheado de dignatários, ficou ao desamparo na Póvoa […].»


A Estação Ferroviária de Sacavém.A viagem de regresso a Lisboa, no dia 29 de Outubro, foi igualmente atribulada; com efeito, segundo relata O Comércio do Porto do dia 1 de Novembro:

«Eram 4 horas e meia quando partiu do Carregado o comboy real, e chegando a Sacavém pararam as locomotivas, ignorando-se ao princípio o motivo; mas sabendo-se pouco depois que haviam sido os tubos de uma d’ellas, que haviam arrebentado. Este accidente levou o desgosto a toda a gente, que assim via um erro tão lamentável, que não se pode attribuir nem a desgraça, nem a defeito da construcção do caminho, mas sim a quem consente madeiras más num serviço de tanta circumspecção. Então uma das locomotivas partiu com metade das carruagens para Santa Apolónia, e depois veio buscar o resto a Sacavém. Eram dez horas da noute quando chegou a Lisboa o segundo comboy que conduzia os convidados..»

Também Eça de Queirós menciona também a povoação e a sua estação ferroviária na Correspondência de Fradique Mendes, continuando assim a demonstrar a importância que em meados do século XIX o Trancão ainda assumia para a população local:

«Chegámos a uma estação que chamam de Sacavém — e tudo o que os meus olhos arregalados viram do meu país, através dos vidros húmidos do vagão, foi uma densa treva, de onde mortiçamente surgiam aqui e além luzinhas remotas e vagas. Eram lanternas de faluas, dormindo no rio [...].»

O desenvolvimento da cultura de ostras no estuário do Tejo, no século XIX, levou à demarcação de zonas para a exploração daquele recurso natural; por uma lei do ministério do Marquês de Sá da Bandeira de 9 de Setembro de 1868 (confirmada por duas portarias do governo do Duque de Loulé de 10 de Novembro de 1869 e de 26 de Janeiro de 1870, respectivamente) foram estabelcidas, na margem norte do rio, como zonas de cultivo ostreícola, toda a faixa litorânea que ia desde Vila Franca de Xira até aos Olivais, incluindo ainda os mouchões de Alhandra e da Póvoa, mas excluindo a foz do rio de Sacavém. No final do século, porém, devido aos assoreamentos, a prática tinha sido, em grande parte, abandonada.


Entretanto, o desenvolvimento industrial conduziu a um grande crescimento demográfico e urbano. A população aumentou muito em meio século (trabalhando mais de metade só na Fábrica da Louça), e Sacavém ganhou novos contornos; as velhas quintas arruinadas foram dando lugar a vilas operárias. Paralelamente à fábrica da loiça, muitas outras indústrias se desenvolvem na região, designadamente a de moagem, descasque de arroz, têxteis, curtumes, estamparia, transformação de cortiça, saboaria, produção de adubos químicos e óleos alimentares, e já no século XX, a das tintas e produtos de higiene.

Muitos dos seus habitantes virão, quer das Beiras, quer do Alentejo, em busca de trabalho, num movimento populacional contínuo que se manteve até meados do século XX — ainda hoje os Sacavenenses têm orgulho nestes seus antepassados, e ainda hoje aqui se encontram sediadas delegações da Liga dos Amigos da Mina de São Domingos, ou da Associação dos Amigos e Naturais de Loriga (ANALOR); destaque também para a Semana Serrana e para a Semana do Alentejo, iniciativas culturais e gastronómicas realizadas anualmente, respectivamente, por aquelas duas organizações, e que atraem um número considerável, quer de habitantes locais, quer das regiões do país em causa (Serra da Estrela e Alentejo).

Não obstante, na segunda metade do século XIX, a povoação mantinha ainda parte do seu carácter rural e pitoresco; não é por isso de admirar que, em 16 de Maio de 1875, tenha sido inaugurada em Sacavém uma praça de touros particular, por ocasião de uma das maiores festividades locais — a feira do Espírito Santo, que se realizava no Domingo do Espírito Santo. Nesse mesmo ano, a 15 de Setembro, teve início a colocação de candeiros para a iluminação pública, ao longo da Estrada de Sacavém, que ligava a freguesia aos Olivais e a Lisboa.
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Mensagem  mtv2006 Sex Jan 02, 2009 12:22 am

Povoação cara à aristocracia

Até ao fim da monarquia, a povoação, a par de outras freguesias vizinhas (como Camarate), continuou a ser das preferidas pela nobreza da capital para se estabelecer (no terceiro quartel do século XIX, contavam-se ainda cerca de cinquenta quintas senhoriais em Sacavém). Tal foi o caso da família Braamcamp (na qual se incluía Anselmo José Braamcamp, líder do Partido Progressista e primeiro-ministro de Portugal entre 29 de Maio de 1879 e 23 de Março de 1881), que aqui possuía três quintas (a Quinta das Pretas, do próprio Anselmo Braamcamp, e as da Vitória e da Horta do Meio, pertença de José Augusto Braamcamp), tendo ainda adquirido as ruínas da Igreja de Nossa Senhora da Vitória após a nacionalização dos bens da Igreja (aliás, o Palacete Braamcamp, também hoje em ruínas, situa-se ao lado do dito templo). De resto, o nome de dois membros da família (José Augusto Braamcamp e Maria Luísa Braamcamp), ainda hoje dão o nome a uma rua, a uma avenida e a uma travessa em Sacavém.

Para além disso, num quadro de distribuição de títulos nobiliárquicos pela monarquia portuguesa, foi atribuído, em 16 de Julho de 1885, o título de Barão de Howorth de Sacavém a John Howorth, administrador da Fábrica da Louça, e em 30 de Julho de 1874, José Joaquim Pinto da Silva foi feito 1.º Visconde de Sacavém. O herdeiro deste último sucedeu-lhe no título.

Na década de 1880 (1884), o conhecido artista plástico e caricaturista Rafael Bordalo Pinheiro executa na Fábrica de Loiça de Sacavém algumas das suas peças cerâmicas, após o que passa a executá-las nas Caldas da Rainha.
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Mensagem  mtv2006 Sex Jan 02, 2009 12:22 am

Integração no novo concelho de Loures

A 22 de Julho de 1886, dá-se a transferência da sede do município dos Olivais, onde Sacavém se encontrava integrada, para a povoação de Loures, ficando Sacavém repartida em duas freguesias (Intra-Muros e Extra-Muros) pela Estrada da Circunvalação, ficando aquela integrada em Lisboa, e esta fazendo parte do novo concelho de Loures. Como a legislação camarária de Lisboa proibia os mercados de gado no perímetro interior da Estrada da Circunvalação, o executivo demissionário da Câmara dos Olivais determinou, a 14 de Outubro de 1886 (no que viria a ser uma das suas últimas medidas, antes da tomada de posse da primeira vereação do novo concelho de Loures, em 2 de Janeiro de 1887), que o mercado de gado que se realizava no terceiro Domingo de cada mês no largo da freguesia de São Bartolomeu da Charneca (a qual, por se achar dentro da linha da circunvalação, ficou integrada no concelho de Lisboa) passasse a realizar-se, a partir do ano subsequente, no Rossio de Sacavém Extra-Muros (a actual Praça da República), «por ser local mais próximo fora da linha de circunvalação em que o dito mercado pode ter lugar».

Pouco mais de nove anos decorridos, a 26 de Setembro de 1895, as duas freguesias de Sacavém foram novamente reunidas numa só, tendo então esta nova entidade sido integrada no concelho de Loures.
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Mensagem  mtv2006 Sex Jan 02, 2009 12:23 am

Século XX

O despertar das colectividades

A mais antiga corporação ainda hoje existente em Sacavém é a Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Sacavém, fundada ainda em 14 de Setembro de 1897. As demais associações datam dos inícios do século XX.

Num meio essencialmente industrial, não é de estranhar a difusão de ideologias defensoras dos interesses das classes trabalhadoras, designadamente o socialismo e o republicanismo. Sacavém tornou-se desde finais do século XIX um baluarte republicano (como aliás muitas localidades industrializadas da cintura envolvente da capital); nos últimos anos de agonia do regime monárquico, seria aí fundada uma instituição política de cariz vincadamente republicano — o Centro Democrático de Sacavém, estabelecido em 13 de Junho de 1909.

Mas já antes a força do republicanismo se manifestava pelo surgimento de agremiações e associações de operários, de carácter vincadamente republicano. Um exemplo marcante deste associativismo é o nascimento da Cooperativa de Crédito e Consumo «A Sacavenense», fundada num dia histórico — 31 de Janeiro de 1900, exactamente nove anos decorridos sobre a fracassada intentona republicana no Porto —, e que conheceu particular incremento durante a I República. Ainda hoje existente, trata-se de uma das mais antigas cooperativas de Portugal, tendo sido declarada instituição de utilidade pública em 11 de Outubro de 1924, por portaria do governo de Alfredo Rodrigues Gaspar (publicada no Diário do Governo n.º 243, II Série). Embora hoje tenha perdido muita da sua vertente económica, mantém-se como um importante pólo cultural e de convívio entre todos os Sacavenenses.

Ao virar do século, existiam várias outras associações, que entretanto se foram extinguindo, como o Club Dramático 8 d'Agosto de 1900, a Troupe Familiar ou ainda o Gilman's Football Club (fundado pelo proprietário da Fábrica de Louça James Gilman, para recreio dos seus empregados, o qual viria a anteceder o Sport Grupo Sacavenense).

Entre as associações que chegaram até aos nossos dias, destacam-se o Clube Recreativo de Sacavém (fundado em 11 de Junho de 1909, sob o nome de Clube de Instrução e Beneficiência Sacavenense, tendo alterado para a sua actual designação em 22 de Setembro de 1928), o Sport Grupo Sacavenense (criado em 19 de Março de 1910), o Clube dos Caçadores (surgido em 1921), a Sociedade Columbófila de Sacavém e ainda a Academia Recreativa e Musical de Sacavém (aparecida em 1 de Julho de 1927).

Mais recentes (segunda metade do século XX) são já o Centro Social de Sacavém (inaugurado em 2 de Junho de 1979 pelo cardeal-Patriarca de Lisboa, D. António Ribeiro, muito embora a sua origem remonte a 15 de Agosto de 1943, quando o Prior Filinto Ramalho instituiu os Serviços de Assistência Materno-Infantil), a Associação Comunitária de Reformados, Pensionistas e Idosos de Sacavém (criada em 6 de Novembro de 1976, funcionando presentemente na Quinta de São José), a Liga dos Amigos da Mina de São Domingos (fundada em 17 de Fevereiro de 1976), a Associação dos Amigos e Naturais de Loriga — ANALOR (criada em 5 de Março de 1987), a Associação dos Amigos da Quinta do Património — AQUIPA, o Clube de Jovens ou ainda o Núcleo Sportinguista de Sacavém (o qual, fundado em 30 de Novembro de 1983, se constitui assim como a sexta agremiação de sócios mais antiga do país ligada àquele clube).
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Mensagem  mtv2006 Sex Jan 02, 2009 12:23 am

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A Revolução Republicana e a revolução toponímica

Aquando da Revolução Republicana de 5 de Outubro de 1910, o povo lançou chamas à ponte sobre o Trancão, para evitar a vinda de reforços monárquicos.

Um dos membros da Comissão Administrativa Provisória do Concelho de Loures, que tomou posse no dia 13 de Outubro, foi o comerciante sacavenense José Pedro Lourenço, destacado membro do Centro Escolar Republicano de Loures, e que viria depois a ser presidente da Câmara Municipal. O seu nome é até hoje recordado na toponímia de Sacavém.

De resto, após a proclamação do novo regime, um pouco por todo o País se assistiu a uma mudança na imagética e nos símbolos, por forma a tentar obliterar aquilo que os Republicanos consideravam ser o nefando passado monárquico, ao mesmo tempo que celebravam a instituição do novo regime. Nesse contexto, Sacavém não foi excepção, e uma vaga de mudanças toponímicas percorreu a localidade.

Assim, por exemplo, em Sacavém de Baixo, o Largo da Feira (ou Terreiro de Sacavém), junto da Igreja Matriz de Nossa Senhora da Purificação, foi rebaptizado de Praça da República; junto desta, a Rua dos Armazéns e a Rua da Estação viram os seus nomes alterados para Rua Miguel Bombarda (o destacado psicólogo republicano assassinado na véspera da revolução) e Domingos José de Morais (um conhecido industrial local), respectivamente.

Em Sacavém de Cima, o Largo da Saúde (conhecido também ao longo dos tempos como Terreiro ou Largo da Capela), defronte da capela do mesmo nome, foi baptizado como Largo Cinco de Outubro, e a Rua Direita passou-se a chamar Rua Almirante Reis, em honra do chefe da revolução republicana que se suicidara na manhã de 5 de Outubro de 1910, por julgar a sedição perdida.
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Mensagem  mtv2006 Sex Jan 02, 2009 12:23 am

Da República à instituição do Estado Novo e à resistência à ditadura

A revolução republicana não resolveu todos os problemas com que os portugueses se debatiam. As classes trabalhadoras sentiram-se particularmente injustiçadas, e a I República sofreu inúmeras agitações e grandes greves gerais. Durante o grande surto grevista de 1912, o governo de Duarte Leite mandou deter os grevistas em vários fortes ao redor de Lisboa, entre os quais o Forte de Sacavém, o Forte de Monsanto e o Quartel do Carmo.

A situação de instabilidade política ao longo dos 16 anos da República conduziu ao Movimento Nacional de 28 de Maio de 1926, iniciado em Braga pelo general Gomes da Costa e logo secundado em Lisboa pelo comandante Mendes Cabeçadas. As forças sublevadas em Braga dirigiram-se em marcha até Lisboa, tendo sido em Sacavém, a 3 de Junho, que Gomes da Costa e Cabeçadas se encontraram pela primeira vez, aí estabelecendo o seu quartel-general.

Foi também em Sacavém que, a 17 de Junho desse mesmo ano, o general Gomes da Costa se reuniu com os comandantes das unidades que sitiaram a capital durante o Movimento Nacional de 28 de Maio, tendo deliberado forçar nesse mesmo dia o comandante Mendes Cabeçadas — considerado pela ala mais conservadora do exército como o derradeiro representante da I República — a renunciar à presidência da República e do ministério por si encabeçado, confiando o poder ao próprio Gomes da Costa.

Finalmente, o golpe de 9 de Julho, que deu o poder a Óscar Carmona e derrubou Gomes da Costa, foi também preparado no quartel-general de Sacavém.

Entretanto, todo o desenvolvimento sócio-económico que se verificava desde meados do século XIX deverá ter pesado no pensamento dos dirigentes políticos da Ditadura Militar. Assim, e seguindo a elevação da própria sede de concelho a vila (em 26 de Outubro de 1926), à povoação de Sacavém foi também atribuído esse estatuto, pelo decreto n.º 14 676 de 7 de Dezembro de 1927 (decreto esse que conferia idêntico valor à povoação de Bucelas, igualmente no concelho de Loures).


A marcha da fome das mulheres de SacavémParalelamente, ao longo dos primeiros anos de consolidação da ditadura, o Regimento de Artilharia Pesada 1 (RAP 1), então sediado no Convento dos Mártires, tomou um papel preponderante na defesa do regime vigente — designadamente, na grande revolta de 26 de Agosto de 1931, em que elementos do RAP 1 e da G.N.R. local, fiéis a Salazar, bombardearam unidades revoltosas em Alverca do Ribatejo, Lisboa e até Loures, onde inclusivamente se chegou a proclamar a reposição da República democrática deposta em 1926.

No entanto, os trabalhadores de Sacavém (muitos dos quais ligados ao PCP, então na clandestinidade) por inúmeras vezes mostraram a sua revolta contra o regime ditatorial:

em 1937, teve lugar a «greve dos rapazes» (os aprendizes da Fábrica de Loiça de Sacavém), à qual se seguiu a vigília de suas mães e esposas, e a subsequente repressão da polícia política do regime — a PIDE);
em 1944, ocorreu a «marcha da fome», a qual foi encabeçada pelas mulheres sacavenenses, pedindo pão e fazendo frente à G.N.R., tendo marchado até à sede concelhia, em Loures — situada a pelo menos dez quilómetros de distância.
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Mensagem  mtv2006 Sex Jan 02, 2009 12:24 am

Da segunda metade do século XX aos anos 80

Em meados do século XX, obras como o Aeroporto de Lisboa (chamado da Portela de Sacavém), o troço inicial da Auto-Estrada do Norte (A1) ou da Estrada Nacional 10 favoreceram ainda mais a fixação, não só de novas indústrias, como também de novas gentes. Sacavém conheceu uma grande explosão demográfica, e entre 1950 e 1970 a população quadruplicou. A ela associada, a explosão urbanística, que se pautou pela construção desregrada e, muitas vezes, desqualificadora do meio envolvente. A partir dos anos 80 o crescimento demográfico estabilizou, atingindo então Sacavém uma população máxima de cerca de 25 mil habitantes.

No dia 25 de Abril de 1974, pelas 5 da madrugada, a coluna da Escola Prática de Cavalaria de Santarém, comandada pelo capitão Salgueiro Maia, passa as portagens da auto-estrada do Norte em Sacavém, rumo a Lisboa, a fim de dar seguimento àquilo que veio a ser a Revolução dos Cravos. De resto, no quadro dos eventos subsequentes à revolução, teve de novo a vila de Sacavém activa participação: com efeito, o quartel do RALIS situava-se então ainda na dita freguesia (actualmente pertence à da Portela de Sacavém, desde a sua autonomização em meados dos anos 80), e aí se deram importantes acontecimentos no final do Verão Quente de 1975 — em 15 de Novembro procedeu-se ao célebre juramento de bandeira feito pelos militares com o punho fechado, quebrando assim as normas do exército; a 25 de Novembro do mesmo ano, o quartel foi sitiado pelas forças afectas à facção mais moderada do M.F.A., cujo líder acabara de se tornar o general Eanes.

À semelhança do que ocorrera aquando da proclamação da República, em 1910, de novo se deu uma mudança na toponímia local: o largo da junta é redesignado Largo 1.º de Maio, e são baptizadas ruas com o nome de operários cerâmicos que foram destacados lutadores antifascistas, ou com líderes de relevo da esquerda mundial (v. g., Salvador Allende).

Em 2 de Junho de 1979 é solenemente inagurado, pelo Cardeal-Patriarca de Lisboa D. António Ribeiro, o edifício do Centro Social Paroquial de Sacavém, a grande obra de assistência à população de Sacavém, fundada originalmente em 1943 pelo Prior Filinto Ramalho sob a designação de Serviços de Assistência Materno-Infantil, e que a população carinhosamente recorda sob o nome de «Obra do Padre».

Assiste-se entretanto, em 1983, ao encerramento da Fábrica da Louça, que laborara ao longo de exactos 133 anos (em 6 de Outubro do ano anterior, Monteiro Pereira, o administrador da Fábrica fora assassinado à saída da sua casa, em Almada, por uma rajada de metralhadora, num atentado perpetrado pelo grupo terrorista F.P.'s — 25 de Abril); seguiu-se enfim a decretação da sua falência, já nos anos 90, assim como a venda dos seus bens em hasta pública.


Na segunda metade dos anos 80, indo de encontro à vontade das populações, foram criadas, por desmembramento da freguesia de Sacavém, as freguesias da Portela (1986) e Prior Velho (1989). Isto, de resto, dava sequência a um movimento que então se verificava em todo o concelho de Loures, de criação de novas entidades administrativas, que aproximassem eleitores e eleitos. Por esta época nasceram também, no concelho de Loures, as freguesias da Bobadela (subtraída a São João da Talha), Famões, Pontinha e Ramada (derivadas de Odivelas), Olival Basto (nascida da Póvoa de Santo Adrião), ou Santo António dos Cavaleiros (desmembrada a partir da freguesia de Loures).
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Mensagem  mtv2006 Sex Jan 02, 2009 12:24 am

Anos 90

Nos anos 90, Sacavém vê enfim reconhecido todo o seu valor e potencial, tendo sido elevada a cidade em 4 de Junho de 1997 (através da lei n.º 45/97, de 12 de Julho, após vários anos de projectos apresentados sem sucesso[57]), em simultâneo com as até então vilas de Alcácer do Sal, Fátima, Sines e Vila Nova de Foz Côa. Para comemorar a data, tem-se vindo a celebrar, anualmente, a elevação de Sacavém a cidade com toda a pompa e circunstância, incluindo as comemorações a Milha Urbana de Sacavém (que já se realizava desde 1987 e passou a ser aproveitada no quadro destes festejos), bem como a Regata Tejo-Trancão, na modalidade de Kayak-Mar (prova iniciada em 1999, com o seu término no rio de Sacavém, e que inclusivamente já está incluída no calendário oficial da Federação Portuguesa de Canoagem).

Com a parte oriental do seu território integrada na zona de intervenção da EXPO 98 (actual Parque das Nações), viu aqui serem instalados os Parque do Tejo e do Trancão, assim como os acessos à nova travessia sobre o Tejo (a Ponte Vasco da Gama, inaugurada em Março de 1998, ligando Sacavém ao Montijo), e ainda vários novos acessos viários, como a CRIL (Cintura Rodoviária Interna de Lisboa), ou a Variante à Estrada Nacional 10, que muito contribuíram para um mais fácil escoamento do trânsito desta região.

Ao mesmo tempo, devido à realização destas obras encerrou-se a rodovia que ligava Sacavém directamente à 2.ª Circular, pela chamada Estrada de Sacavém, com a erecção de um muro de betão a separar a localidade de Lisboa (conhecido pelo desditoso nome de «Muro da Vergonha»), o que motivou na altura (e continua a suscitar até hoje) grande contestação por parte dos habitantes de Sacavém.

Este período ficou também marcado por dois tristes crimes relacionados com a G.N.R. de Sacavém, que chocaram os Sacavanenses e indignaram a opinião pública nacional, pela grande repercussão que tiveram nos meios de comunicação social. A 16 de Maio de 1996 foi encontrada no vale de Chelas uma cabeça humana, que se veio a demonstrar pertencer a Carlos Rosa, decapitado pelo capitão da esquadra da G.N.R. de Sacavém a 7 de Maio; pouco mais de cinco anos volvidos, em 12 de Junho de 2001, novo crime ensobrou a terra, quando apareceu enforcado na cela da mesma esquadra um outro jovem, Pedro Morgado, alegando os militares tratar-se de suicídio, mas demonstrando-se, pelas provas, tratar-se de homicídio por estrangulamento. A tudo isto não terá sido indiferente o encerramento da esquadra da G.N.R. (actualmente transformada em ATL para os jovens), e a abertura de uma esquadra da P.S.P., no final desse mês de Junho de 2001.
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Mensagem  mtv2006 Sex Jan 02, 2009 12:24 am

Século XXI

Entretanto, em 2000, seria inaugurado o Museu de Cerâmica de Sacavém, destinado a conservar o espólio da antiga Fábrica de Loiça (sobretudo o antigo Forno n.º 18, a única parte da antiga fábrica preservada, já que o remanescente deu lugar a novas urbanizações); foi já galardoado com um prémio internacional pela sua reconhecida excelência.

No dia 1.º de Dezembro de 2001, faleceu em condições trágicas o Prior Filinto Ramalho, devido a um incêndio na sua residência (contígua à Igreja Matriz); não obstante a pronta intervenção dos bombeiros, já não foi possível resgatar com vida o seu corpo. Desaparecia assim uma grande referência da população de Sacavém (já que fora pároco da localidade ao longo dos 59 anos precedentes), facto que causou grande constrenação; desde então que a Junta de Freguesia e os movimentos associativos locais têm procurado homenagear esta figura ímpar da vida local sacavenense.

Em finais de 2003, novo escândalo trouxe o nome da terra às primeiras notícias dos media, tendo a Polícia Judiciária investigado o contrabando de jipes topo-de-gama entre a direcção dos Bombeiros Voluntários de Sacavém e o empresário Sousa Cintra (filho do antigo presidente do Sporting Clube de Portugal José de Sousa Cintra).

Em 2005 iniciaram-se, no âmbito do Programa de Requalificação e Ordenamento Urbano das Áreas Suburbanas de Lisboa (PROQUAL), obras destinadas a beneficiar a cidade de Sacavém, enquanto principal pólo urbano da zona oriental do concelho de Loures, cofinanciadas pela Câmara Municipal e o Ministério da Administração Interna. Nesse sentido, tiveram início as obras do novo quartel dos bombeiros (obra muito desejada não apenas da corporação, como também da população em geral, dado que as anteriores instalações, bastante antiquadas e situadas no centro da cidade, em zona de ruas relativamente estreitas, impedia a prestação de um melhor serviço às populações servidas pela corporação de bombeiros sacavenense).

Do mesmo modo, a Avenida do Estado da Índia (antigo troço final da Estrada Nacional 10 e hoje a principal artéria do tecido urbano sacavenense), está a ser requalificada, através do reperfilamento da via, reordenamento do trânsito (com criação de duas faixas de rodagem em cada sentido e um separador central) e ainda vários melhoramentos acessórios nas áreas circundantes.

Por fim, ainda ao abrigo do PROQUAL, e como forma de continuar a valorizar o património cultural da cidade, foi inaugurada, em Julho de 2005, a Casa-Museu José Pedro, imóvel de um antigo operário sacavenense, que deixou vasto espólio cerâmico.

Graças ao renovado mobiliário urbano situado na zona oriental da cidade, na área do Parque das Nações (os Parques do Tejo e do Trancão), a freguesia tem sido palco de diversos eventos culturais e, sobretudo, musicais. Assim, desde 2003 que Sacavém vem acolhendo, nas noites de Verão, sessões de drive-in promovidas pela Câmara Municipal de Loures, e que têm trazido o melhor da sétima arte à foz do Trancão.

Por outro lado, a partir de 2004, têm-se realizado, no Parque do Tejo, no final de cada Primavera, as 10.ª , 11.ª e 12.ª edições do Festival Super Bock Super Rock, patrocinado pela conhecida marca de cerveja Super Bock, tendo contado com a participação de vários artistas de pop, rock e hip-hop nacionais e internacionais (como Alice in Chains, Audioslave, Avril Lavigne, Blasted Mechanism, Blind Zero, Boss AC, Bunnyranch, Clã, Da Weasel, David Fonseca, Deftones, Expensive Soul, Fatboy Slim, Franz Ferdinand, Hoobastank, Incubus, Keane, Korn, Lenny Kravitz, Linkin Park, Loto, Marilyn Manson, Massive Attack, Mind da Gap, Moby, Moonspell, Nelly Furtado, N.E.R.D., New Order, Pixies, Placebo, Primitive Reason, Reamonn, Slayer, System of a Down, Black Eyed Peas, The Gift, The Prodigy, Toranja ou Within Temptation).

A polivalência destes espaços levou-os também a serem o palco escolhido para a realização do Festival Académico da XVII Semana Académica de Lisboa, ocorrido nos dias 3, 4 e 5 de Maio de 2006, assim como da XVIII Semana Académica, nos dias 4, 5 e 6 de Maio de 2007.
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Mensagem  mtv2006 Sex Jan 02, 2009 12:25 am

Preocupações actuais e desafios para o futuro

O concelho de Sacavém

As freguesias que integrariam um futuro concelho de Sacavém, cobrindo a metade oriental do actual concelho de Loures: Apelação, Bobadela, Camarate, Moscavide, Portela, Prior Velho, Sacavém, Santa Iria de Azóia, São João da Talha e Unhos.Actualmente, entre as preocupações que estão na ordem do dia em Sacavém, destacam-se a criação do município de Sacavém (que incluiria as dez freguesias da zona oriental do concelho de Loures — Apelação, Bobadela, Camarate, Moscavide, Portela, Prior Velho, Santa Iria de Azóia, São João da Talha, Unhos, e muito naturalmente, a cidade de Sacavém, que seria a sede da nova edilidade), um propósito já bastante antigo, posto que já nos finais do século XIX, em 17 de Abril de 1897, um jornal local (o Correio de Sacavém: semanário órgão dos interesses locaes do Concelho de Loures, periódico de curta duração, já que se extinguiu ao fim de 35 números, em 16 de Dezembro do mesmo ano) exigia das autoridades centrais a descentralização administrativa:

«A par com a reclamação das providências com que o Estado tem por obrigação acudir, conforme as urgências, visto ser ele o senhor de todos os serviços públicos, reclamaremos também a descentralização desses mesmos serviços tão necessários à boa administração dos povos como bem exercitados.»

É preciso entretanto esperar por 17 de Maio de 1914 para ser subscrito o primeiro abaixo-assinado pelos eleitores destas povoações no sentido de ser criado este novo município. Na altura, o projecto contou com as assinaturas dos eleitores das freguesias da Apelação, Camarate, Charneca, Sacavém (incluindo os actuais territórios da Portela e do Prior Velho), Santa Iria de Azóia (que então abrangia as actuais freguesias da Póvoa de Santa Iria, São João da Talha e Bobadela), Unhos, e ainda da povoação de Moscavide (à data, integrada na freguesia dos Olivais como mero lugar); só a dissolução do Congresso da República impediu de levar a bom porto esta iniciativa.

Desde 1987, têm sido de novo levados à Assembleia da República vários projectos de lei, apresentados pelo PCP e pelo PSD, no sentido de viabilizarem este desejo das suas populações; se primeiro contaram com a oposição de certas bancadas parlamentares na Assembleia da República, mais recentemente têm esbarrado na oposição demonstrada por algumas Assembleias de Freguesia (designadamente as da Portela e de Moscavide).

Aquando da criação do concelho de Odivelas, em 1998, foi levado à discussão um projecto de lei do PCP (n.º 490/VII/3, da autoria de Octávio Teixeira e António Filipe) que contemplava também a criação do município de Sacavém (idêntico a um projecto já apresentado na anterior legislatura, o n.º 61/VI/1[64], e subscrito por Jerónimo de Sousa e João Amaral), o qual foi, no entanto, chumbado.

A última proposta (n.º 39/IX/1), de 2004, foi levada ao Parlamento pelas mãos de deputados da coligação governamental PSD-PP, sendo que, depois da dissolução parlamentar em final desse ano, alguns meses após a realização das eleições legislativas em 20 de Fevereiro de 2005, deu de novo entrada idêntico projecto de lei (n.º 99/X/1), desta feita subscrito apenas pelo deputado do PSD, Rui Gomes da Silva.

A eventualmente ser criado, o município de Sacavém recobriria a antiga área de influência do reguengo de Sacavém, com a exclusão das freguesias de Frielas e da Charneca do Lumiar, e a inclusão da de Santa Iria de Azóia. Com aproximadamente 35 km² de superfície, seria o nono mais pequeno concelho do país (superando apenas São João da Madeira, Entroncamento, Corvo, Espinho, Amadora, Vizela, Odivelas, Mesão Frio e o Barreiro), mas um dos vinte maiores, em termos de população (com perto de 130 mil habitantes), ficando integrado na área metropolitana da Grande Lisboa, onde superaria os coeficientes populacionais de concelhos como Mafra, Loures, Vila Franca de Xira e até mesmo Odivelas.
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Mensagem  mtv2006 Sex Jan 02, 2009 12:25 am

O projecto de criação da Freguesia do Oriente

Outra preocupação prende-se com os desejos autonomistas dos habitantes do vizinho Parque das Nações, que pretendem ver criada a Freguesia do Oriente, cujo limite Norte será, a ser fundada, o rio Trancão — o que, na óptica dos órgãos autárquicos de Sacavém, amputaria uma parte significativa de território da freguesia. Ainda que, em termos funcionais, esse território possa ser considerado como integrante da cidade de Lisboa — visando assim a proposta de criação da referida freguesia adequar a divisão administrativa à realidade das populações — tal desígnio causa veemente repúdio a todos os sacavenenses que habitam fora do Parque das Nações, tendo a Assembleia de Freguesia de Sacavém inclusivamente votado por unanimidade um parecer desfavorável à criação da referida freguesia.

Convém, aliás, frisar que, presentemente, o parque imobiliário construído na área do Parque das Nações situada na freguesia de Sacavém é o mais diminuto das três freguesias pelas quais presentemente aquele se estende (Sacavém, Moscavide e Olivais), sendo como tal, por ora extremamente reduzido o número de habitantes do Parque das Nações na área actualmente ocupada pela freguesia de Sacavém; com efeito, a maior parte do território é ocupada pelo Parque do Tejo e do Trancão.

Contudo, os partidos e organizações que subscrevem esta alteração administrativa (ou seja, a criação da Freguesia do Oriente dentro do Concelho de Lisboa ou, no mínimo, a inclusão de todas as áreas do Parque das Nações na freguesia de Santa Maria dos Olivais) defendem ser esta a forma mais racional de gerir um espaço como o Parque das Nações, que actualmente é dividido por três freguesias e dois concelhos (além de que o concelho de Loures, actualmente, não administra o território do Parque das Nações — por exemplo, não administra a distribuição de água nem os outros serviços municipalizados, ao contrário com o que acontece com a porte de Lisboa — recebendo apenas os impostos municipais provenientes do mesmo, o que implica um desfasamento entre quem recebe e quem actua).

Uma proposta no sentido da criação da dita freguesia deu entrada na Assembleia da República ainda em 2004, por deputados do PSD e do CDS-PP, mas com a dissolução parlamentar em finais desse mesmo ano, ordenada pelo Presidente da República (então Jorge Sampaio), essa iniciativa legislativa caducou; porém, já na presente Legislatura, foi de novo apresentada à discussão pelo PSD, achando-se de momento na comissão de ordenamento territorial, para discussão (projecto de lei n.º 100/X/1).
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